Apologia a Criminalidade

quinta-feira, fevereiro 15, 2007

As “pessoas” (seres vivos constituídos biologicamente, uma máquina pensante) que vivem em algo chamado “sociedade” (uma aglutinação desigual de seres em “comum acordo”) chamam de monstros os desgarrados, marginalizados, esquecidos, os excluídos, que não aprenderam a amar (eu não sei amar), que não se “enquadram” nas leis, supostamente, morais e éticas... Quem são eles, afinal? A quem eles representam, além de si mesmos... São porta voz de quem e por quê? Eles têm alguma moralidade, além das idéias egoístas de como o outro deva se comportar, para não os atingir. Qual é o “amor” que “eles” têm pelos “outros”, os proscritos? Quando os proscritos se revoltam, subitamente e magicamente, eles vêm à tona, eles passam a existir, uma existência, que obviamente, lhes foram negadas, pelos “incluídos”.

Eles, os incluídos, que passaram pelo controle de qualidade, que foram catalogados e padronizados, os “perfeitinhos”, representantes da “unanimidade”, construtores de um monstro horrendo chamado sociedade. Reclamam de seus filhos desgarrados? Frutos da omissão, do descaso, do desamor... Como eles tratam os favelados que morrem de fome? Como eles tratam os que não seguem o padrão? Como, eles, maquiavelicamente, criam guetos e jogam o “lixo”, num terreno baldio qualquer, ou num campo de concentração moderno. E ainda querem paz, conforto, harmonia. Pra quem? Só pra eles é claro. Porque eles nunca pensam no outro. Sentem nojo do outro, incluindo a mim, é claro. Querem distancia, para não ver o monstro que eles criaram. Monstro este, que mal sabe ler e escrever, que não sabe se comportar em sociedade, que não sabe se expressar, que perdeu a capacidade de “falar”, como eu, é claro.

Na onde eles estavam quando os “monstros estavam sendo violentados, humilhados, desprezados, ignorados (como eu é claro) e aprendiam a se detestar e a detestar os outros. Eles, os monstros, reproduzem a violência que foi o único legado que a sociedade lhes deixou. Ou eles, os monstros, violentam os outros, os incluídos, ou eles se auto-violentam-se, como eu é claro. Porque quem aprendeu a detestar, detesta principalmente a si, e depois exterioriza este sentimento para o outro. Valores?! Que valores? Quem não da valor a sua própria vida, também não da valor a vida do outro. Quem não foi valorizado, acolhido, protegido, incluído perde totalmente a capacidade de amar. Aquele que foi e é ignorado como eu é claro, que não tem um lugar definido na sociedade, que se sente deslocado e sem graça diante dos incluídos, e perde totalmente e definitivamente a capacidade de se sociabilizar, como eu é claro, não pode e nem deve seguir as regras da sociedade. Sociedade maniqueísta e hipócrita, de usurpadores, sociedade dos incluídos e feita para os incluídos. Sociedade que massacra quem não segue os padrões, como eu é claro, sociedade dos “perfeitinhos”... Daqueles que falam, o contrario de mim, que contam piadas, que riem e se divertem, que tem com quê se divertir, o contrario de mim... Eu que já perdi a humanidade, que nunca vou conseguir me amar, que nunca vou valorizar nada que faço, que, sempre serei o pior inimigo de mim mesmo, sou o perdido que ao invés de “explodir”, como um “monstro” clássico, acaba se “implodindo”. E deve agüentar sozinho, calado, todo o sofrimento do universo, e este sofrimento ninguém leva em consideração. Só levam em consideração quando vêem o “sangue”, quando o agredido grita, berra, esperneia, conta a seu sofrimento para todo o mundo. Mas, os “monstros”, não tem o direito de falar, não podem falar, porque quem os agrediu (a sociedade) foi quem lhes fizeram o mal. Eles devem suportar sozinhos, nem ao menos, adianta chorar, e nem muito menos pedir ajuda. A sociedade rejeita terminalmente quem “fede”, quem nasceu “podre”, quem não é “perfeitinho”, quem não ri, quem não fala, quem nasceu pobre. Somente um psicopata entende o sofrimento de outro psicopata. Somente quem foi e é excluído sabe o que passa na cabeça de um excluído. O desconforto que eles sentem no meio da multidão, a dor que ele carrega calado o sentimento imenso de podridão interna e o choque com o ser saudável (bonitinho e limpinho), o incluído. Ninguém pode conceber o grau de sofrimento de um “monstro” excluído, que reprime, reprime, reprime, alguns explodem, outros implodem e cometem suicídio, como eu é claro.

A sociedade é para os fortes, os espertalhões, os que dominam, os que criam as leis e dirigem as multinacionais, que tem um emprego qualificado e diploma universitário. A sociedade não é para os desajustados, problemáticos, deprimidos, revoltados... Na sociedade só existe, só tem “valor”, quem tem voz ativa, (e eu não tenho nenhuma voz é claro), quem faz e quem acontece, quem nasce rico, tem teve o privilegio de nascer numa família estruturada, quem tem um diploma universitário, eu não tenho nada disto...

Eu sou sozinho, os “monstros” são sozinhos, não tem a proteção da sociedade, vivem na margem, na periferia, passam ocultos, ninguém liga pra eles. Perderam, perdi, totalmente a capacidade de confiar, de se “soltar”, de abrir-se, vivem em estado de pânico. São uns “monstros”, mas vêem a sociedade como se ela fosse um monstro, um monstro letal e perigosíssimo, ou eles fogem e se escondem, ou, eles tentam matar este monstro. Tudo que o monstro ama é detestado pelos monstrinhos, os filhos do monstrão, do monstrengo.

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