4-3 Nada o que comemorar no meu aniversário

quinta-feira, fevereiro 08, 2007

Decididamente não há nada para comemorar no meu aniversario. Na vida, não realizei nada de importante, no máximo, fico me lamentando o tempo todo. Se pelo menos eu tivesse uma vida comum... sem estes medos e inibições. Fosse independente, nem isto eu posso ser... Corresse atrás das minhas metas e me esforçasse para realizar os meus desejos. E tivesse uma vida social ampla e dinâmica, transitasse nos vários setores da sociedade, usufruindo o direito de ir e vir... E, sou o contrario disto tudo... Fico trancafiado o tempo todo no meu quatro, com medo de me expor ao publico. Remexendo no meu interior, idealizando historias fantásticas, indo de um delírio utópico de grandeza a um sentimentalismo auto-destrutivo. Humilhando-me, porque a única coisa que a sociedade me ensinou foi me humilhar; ela nunca me ensinou o verdadeiro amor, um sentimento de proteção e carinho, que gera confiança e auto-estima, um apego interno, que se reflete em como a pessoa se enxerga e por extensão enxerga a sociedade. No final das contas, sou um paria da sociedade, um órfão deserdado, um fugitivo ou proscrito que precisa ser eliminado, um estorvo, taxado e rejeitado, que não passou pelo controle de qualidade; para me proteger preciso criar um casulo, uma carapaça interna e externa, uma complexa rede de repressões e bloqueios, para ocultar de mim mesmo e da sociedade, me anular completamente. Enquanto a morte não vier me buscar.

Disto tudo, em que as perspectivas são negativas por todos os lados, e não há nenhuma escapatória, nenhuma derradeira luz no fim do túnel ou esperança a me guiar, não há nada o que se comemorar no meu aniversário. A não ser a falência e a bancarrota de um homem. E a sua total inutilidade e incapacidade. Não sei, por exemplo, dirigir um carro. Não sei nem ao menos andar de ônibus. Muito menos, consigo me relacionar com as pessoas. Não tenho nenhum curso superior ou nenhuma especialização em nenhuma área. Não sei nem ao menos namorar... Tudo que eu faço, quando a minha baixa auto-estima me permite é claro, faço utilizando a imaginação, a intuição e o “chutometro”, ou o “achismo”, sem nenhum preparo anterior ou estudo profundo a respeito de uma matéria.

Diante destas perspectivas terrivelmente negativas e irremediavelmente impossíveis de se lidar, onde as chances de um milagre acontecer inexiste, não há nada o que se comemorar no meu aniversario. A não ser se ganhasse na loteria e construísse uma redoma de proteção mais eficiente e impenetrável para me salvar da sociedade e garantir um conforto maior até que a morte venha efetuar a sua ação benemerente.

Não sei se palavras tem o pode de mudar todo um contexto internalizado e uma personalidade já formada com todos os parâmetros definidos. Em certas ocasiões as palavras são inócuas e insipientes, não dá para mudar uma configuração mental estabelecida e reforçada por traumas e uma confluência de emoções recalcadas. Talvez, exista uma solução que não consigo ver, já que a solução esta do outro lado de nos mesmo, num universo paralelo.

Se pelo menos eu tivesse um “eu”, ou um “eu” qualquer, para me definir. Mas o meu “eu” é tão repleto de um “não-eu” que este “eu” se torna obsoleto, minúsculo e desnecessário. Como se o “eu” tivesse o poder de caracterizar e individualizar um ser, a tal ponto dele se diferenciar da sociedade, da genética a qual esta submetido, e do meio ambiente a qual esta enquadrado e das leis físicas que regem o universo, e fugir da massificação cultural... o “eu” não tem este poder. Nem o meu “eu”.

0 comentários: