4-9 Crise de ciúme e ódio

quinta-feira, fevereiro 15, 2007

Eu preciso me resguardar da sociedade. Ficar aprisionado no meu casulo. Sem ter o direito de ir ou vir. Eles, os incluídos, têm o direito de ir e vir, menos eu que não sou incluído. Que não tenho amigos e ninguém pra sair. Que sou sozinho no mundo.

Existe um problema gravíssimo em mim chamado crise do ciúme e ódio. Este sentimento explosivo, devastador me obriga a isolar-me. Se tento me inserir socialmente penso que os outros não me ama o suficiente, que eles amam mais os seus amigos do que eu, que me suportam por caridade, não por amizade verdadeira. Este pensamento obsessivo não sai da minha cabeça. E qualquer gesto das pessoas é visto como um ato de desamor por mim. Fico o tempo todo prestando atenção no que as pessoas estão falando e na atenção que eles dão aos outros e isto é visto por mim como um profundo descaso, como se eles me ignorassem totalmente. Dentro de mim sinto um ciúme extremissimo, gigantesco, galáctico... Uma dor insuportável, completamente insuportável, insuportável... Depois vem o ódio. Imenso, impossível de se descrever. Se pudesse destruiria toda a humanidade. Pegaria uma metralhadora e sairia atirando para todo o lado. É um turbilhão gigantesco de ciúme e ódio. Todo o sentimento de carência e ódio acumulado e reprimido por toda a minha vida, violentamente e inopinadamente, é exposto instantaneamente; uma represa de dores reprimidas é destruída, os bloqueios feitos pela mente é quebrado... a minha mente se transforma num pandemônio, num tremendo caos psíquico, a mente entra em colapso. E a única maneira de se parar com este desmoramento é o isolamento. Quando me isolo a dor passa e a crise do ciúme e ódio vai embora. No isolamento, no distanciamento, as ligações sentimentais são quebradas, o outro passa a não ter nenhuma importância para mim. Cortasse o afeto e o ciúme não tem mais sentido e o ódio desaparece. O único jeito que eu encontrei para lidar com esta situação extrema, com este sentimento insuportável, foi o isolamento. No isolamento a minha mente, antes agitada, sofrendo dores terríveis, impossíveis de se descrever, caótica, confusa, vai se acalmando a medida que a ligação com o mundo e com as pessoas que gosto vai desaparecendo. Eu não posso amar ninguém, isto não é permitido. Preciso sempre manter um grande distanciamento. Para não ter o perigo de me afeiçoar excessivamente e despertar a terrível crise de ciúme e ódio.

Na minha mente doentia ou as pessoas me ama obsessivamente e incondicionalmente, ou elas simplesmente não me ama de modo algum. Ou é tudo ou nada. A minha mente não admite um amor pequeno ou uma atenção minúscula. Isto é visto como desprezo, um desprezo imenso que cria uma dor terrível. Um sentimento absolutamente grande de abandono, e isto é o fim, prefiro mil vezes a morte. Não gosto nunca de estar no segundo lugar no coração de ninguém. Ou, eu sou o primeiro e absoluto, sem nenhum adversário, ou então eu não sou nada e não tenho importância nenhuma, não sou amado, a pessoa não me ama de modo algum. E isto não é culpa minha. Não adiante nada eu achar que estou certo ou errado. Esta emoção toma conta de mim e me governa, não posso fazer nada, absolutamente nada.

O que as pessoas não entendem é que o meu isolamento tem uma função psíquica importante. Os “traumas” são amenizados, entram num estado de dormência. Eles não desaparecem, porem, não causam tanto sofrimento. Não consigo suportar a super-abundancia de emoções negativas que vem a tona quando tento me relacionar com o outro. Com isto o meu desenvolvimento sociocognitivo é praticamente impossível, ou inviável. Não é só o medo e a ansiedade, se fosse só isto seria mais fácil. O difícil é ter que enfrentar o ciúme e o ódio e a diferença que existe entre o que sou e o que quero ser, o conflito permanente entre a realidade e a imaginação, o sonho do que imagino ser; com uma pitada de arrogância e egoísmo... e a total ausência de amor, como se eu fosse incapaz de amar, no máximo, posso me apaixonar por alguém. Nisto existe um conflito medonho, não sei se perdi a capacidade de amar ou esta capacidade foi diminuída devido ao meu isolamento forçado e a falta de afeto, ou, se eu, verdadeiramente, não tenho a capacidade de amar por culpa de alguma doença mental, como a esquizofrenia, por exemplo.

Tato o ciúme e ódio são internalizados e não são expressos externamente ou socialmente, o que gera um “efeito estufa” agravando ainda mais a situação e aumentando o desconforto interno.

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