1-17 O problema da individualidade - 16/11/2006

sábado, novembro 18, 2006

Uma coisa que me preocupa muito é a individualidade. Aquilo que me diferencia do outro. E no fundo não consigo encontrar nada de diferente. E me pergunto porque nasci, se sou tão parecido com o outro. Se tenho idéias parecidas, gostos parecido e o meu campo de experiência humano é semelhante ao outro... há algo, em mim que seja radicalmente diferente de um outro ser humano? Algo que seja realmente meu. Algo que justificasse a minha existência humana, existe espaço para a igualdade de personalidades!? Se somos todos iguais porque existimos!? Para repetir incessantemente dos mesmos gestos, os mesmos pensamentos, as mesmas duvidas, os mesmos questionamentos... Que direito temos de iguais aos outros!? Porque Deus criaria bilhões de pessoas com os mesmos sentimentos!? Porque não criar alguns milhões de pessoas e pronto. Excesso de repetição e indubitavelmente contrario a qualquer ineditismo na condição humana. Será!? Que para evolui é necessário ter a criação de bilhões de consciência para que nesta multidão surja algo de diferente, algo a qual a consciência não havia estipulado... o surgimento do novo... Não sei!?

Eu não sei, ou não tenho certeza absoluta... Mas o que me preocupa e eu ser parecido com os outros. Algo impensável para mim. Pois, quero, de todas as maneiras ser diferente do outro; ser diferente em tudo, em tudo mesmo... e nenhum ser seja igual a mim. De certa maneira, ser igual ao outro, é um insulto a minha grandíssima individualidade. Não gosto, de maneira alguma, me ver no outro; enxerga-me no outro, nos seus detalhes mínimos,... o humano me desumaniza, ou , pelo menos, tento fazer isto para me “proteger”. E por mais que tento não consigo me emancipar da consciência humana e seus atributos internos, não consigo me distanciar da genética humana... continuo, mesmo não querendo, sendo um simples ser humano, iguais aos outros.

A minha poesia não retrata de maneira sabia e honesta o novo e inédito. A minha poesia não consegue dar aquele “salto quântico” para me diferenciar. A minha poesia é carregada de um ranço tipicamente humano e isto me assombra e me inquieta, não consigo deslindar a invenção do novo. Fico restrito, infinitamente restrito, ao pequeno, mutável e efêmero campo de percepção da realidade humano.

Como posso me diferenciar!? Como posso realçar as minhas características mais intimas sem me identificar com o outro. Preciso subir num pedestal de suprema criação e recriar-me utilizando um novo paradigma; reinventar um novo ser... que não seja o humano. Mas isto é tão impossível. Tão insano. Tão anti-tudo. E porque querer ser diferente!? Bastaria me consolar com o igual, resfacelar-me com a minha visão humana, tipicamente humana, e com as suas imutáveis ou mutáveis predisposições genéticas e psicológicas. Porque ser um ser humano!? Ser diferente, para mim, é essencial, pois, como posso ser um grande escritor ou poeta se minhas idéias já foram pensadas por outros, e minhas visões da realidade refletem perfeitamente a visão dos outros seres. Como posso me diferencias, me destacar?... Como posso ser um “astro-rei” brilhando intensamente pela sua criação inédita!? Senão consigo me diferenciar não alcançarei nada... somente a mediocridade. E isto para a minha sede de superação, aquele complexo de Deus reverso, é o fim... o fim!!

Enfim... Tudo vai, tudo volta, tudo gira hermeticamente numa condição insignificantemente diferente. Talvez eu seja muito “ambicioso”, ou, muito “egocêntrico”, não sei ao certo... ou, esta minha imaginação doentia; imaginação esta que quer tudo e nada realiza, seja a razão da minha doença.

O Augusto dos Anjos consegue escreve de uma maneira tão diferente(acho, que ele, também, por motivos próprios, queria se diferenciar do outro a todo custo), utilizando palavras novas, com um vocabulário tão rico, isto me fascina, e me causa inveja, apesar de seu pessimismo gritante. Fernando pessoa, principalmente Álvaro de campos se heterônimo, consegue ter uns inshigts metafísicos assombrosos que mudam a percepção da realidade; e este ponto de “grandiosidade” eu queria alcançar, mas..., mas...

Ser diferente em tudo:

Comer a comida de um jeito diferente e lidá-la como se ela fosse um remédio e não uma fonte de prazer; ouvir musica que ninguém ouviria (poucas pessoas, no mundo, ouvem musica clássica, trilha sonora); ver filmes que ninguém veria (filmes europeus principalmente); a poesia (poucas pessoas no mundo realmente gostam de poesias); literatura, livros clássicos que não são apreciados pela maioria da população; ter um vocabulário e uma maneira de se expressar totalmente diferente dos outros; ter uma percepção da realidade ou da sociedade diametralmente oposta à unanimidade; não ter obsessões por ídolos idolatrados pela massa; não ter uma “tribo” e nem algo parecido; ser único e exclusivamente você, em todas as situações; ter opiniões diferentes da maioria ser um “anacrônico” ou um “Kadrashiano”; reinventar-se a todo o momento e não paralisar-se numa determinada situação, etc...

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