Retorno, retornável...

domingo, outubro 07, 2007

Não adianta, por mais que eu ande ou desande, por mais que eu rezo e tento confiar em Deus, sempre acabo voltando ao ponto zero de meus problemas, das minhas profundas inquietações psicológicas. (Quem já tentou parar de fumar, ou combater um vício, ou tentou mudar os seus hábitos alimentares, sabe muito bem como e isto, estas recaídas ao estado anterior. ) E a resposta e as perguntas são as mesmas de quando eu era um garotinho do prezinho. Alguém me ama? Alguém vai me amar de verdade? Para as pessoas me amarem eu precisaria ser otimista, alegre, falador, contador de histórias, conselheiro sentimental, um palhaço ambulante, etc... etc.... A amizade é uma guerra, para vencer esta guerra é necessário usar todas as armas que consiste em oferecer prazer e entretenimento ilimitado ao outro, quem não consegue fazer isto não tem “amizades verdadeiras”.

Eu sou uma das poucas pessoas no mundo que “mereceria” ser rico. As pessoas normais, a absoluta maioria, tem amigos de verdade, se relaciona com os seus familiares, já tiveram dezenas de relacionamentos afetivos (romance, namoro); ao contrário de mim que não tive nada disto. E passei a minha vida inteira, trancado no quarto, absolutamente mudo, não me relacionando com ninguém. Décadas e décadas isolado, aprendendo a desconfiar dos homens, sozinho, cresciam as angustias, as dores e a paranóia; eu não tenho nenhuma habilidade social (conversação), porque isto foi algo que eu nunca pratiquei em vida. E toda vez que eu era humilhado ou quando uma pessoa que eu amava desaparecia da minha vida, ou, quando estou no meio das pessoas e fico “paralisado” (existe um terno na psicologia para descrever este estado), inquieto, em estado de alerta, com o corpo tenso, e não consigo, por mais que tente, pronunciar uma palavra: quando tudo isto acontece entro imediatamente em crise, fico profundamente frustrado... Um grande sentimento de abandono, de impotência diante das dificuldades da vida, a minha auto-estima e autoconfiança cai para um nível inferior a zero. Começa a autoflagelação psicológica, faço tudo para me sentir a pior pessoa do mundo, por não ter agido corretamente, ter um comportamento social adequado. E sempre, nestes casos, busco o “campo seguro” do isolamento, para diminuir as minhas angustias, os amores frustrados e o abandono, para não me sentir “mudo”, um nada invisível, diante das pessoas...

Uma pessoa normal consegue lutar, buscar soluções, se relacionar com o outro, terá o apoio de seus familiares e amigos; mesmo com todas as dificuldades irão “viver”, não irão vegetar como eu. Até as pessoas com problemas mentias seríssimos terão apoio de seus familiares e amigos, se ficarem isolados alguém ira tentar o ajudar, e no meu caso, posso ficar décadas isolado, sem amigos, sem relacionamento, sem trabalhar, sem viver e me divertir que os meus familiares não irão fazer nada pra me ajudar, muito pelo contrário, irão achar este meu comportamento normal...

Por isto deveria ser uma das poucas pessoas n o mundo que “necessitaria” ser rico. Porque assim poderia pagar para ter amigos, namoradas, iria contratar pessoas para sair comigo todos os dias, nunca ficaria sozinho. Para uma pessoal normal, sem a minha doença, é relativamente fácil fazer isto, no meu caso, só pagando mesmo... Não me sentiria mal, por não oferecer nada em troca ao outro que estaria me acompanhando; me sinto extremamente péssimo quando estou com pessoas e não consigo alegrar, e ser uma boa companhia para os outros, isto me deixa num estado lastimável de solidão e frustração, morrendo de medo de perder os “amigos” que possuo, por não consegui entretê-los. E também, se fosse rico, contrataria pessoas para me obrigar a me relacionar, talvez um sargento militar, precisaria ter uma disciplina rígida. E se eu me trancasse no quarto ele iria arrombar a porta e iria me obrigar a ficar numa multidão barulhenta, se eu não falasse nada ele iria me bater até eu começar a falar; tudo isto faria parte do contrato, se ele não cumprisse seria demitido, por um assessor, que seria um psicólogo ou psiquiatra, que coordenaria toda a ação, isto, para que eu não demitisse todos e voltasse a estagnação de sempre. E estes profissionais me obrigariam a escrever livros, a ter atividades, a elaborar projetos, e a expandir todas as minhas habilidades... Teria aula de dança, de lutas marciais, para aprender a relaxar e a usar mais a “agressividade”. Faria uns duzentos cursos diferentes, e entraria numa faculdade, independente da minha vontade, pois os meus assessores me obrigariam... Iria viajar todo o mês, com os meus “amigos pagos”, personal friends, ou namorada paga, ou com um acompanhante terapêutico; nunca ficaria restrito a somente um como da minha casa por décadas, iria querer ampliar os meus horizontes.

Faria um milhão de tratamentos estéticos, colocaria dentes novos, para substituir os meus que tenho vergonha até a medula da minha alma; operaria os olhos para abandonar os óculos; faria RPG ou pilates para melhorar a postura; faria operações plásticas para ficar mais bonito... Teria aulas particulares de oratória, teatro, ou psicodrama, psicodança, aulas de conversação e comunicação verbal, etc... Muitas pessoas queria ter tudo isto, mas estas pessoas tem amigos, familiares, se relacionam e tem uma vida normal apesar de problemas e dificuldades, o contrario de mim... Só vou ter amigos de verdade, quando pagar, só vou namorar quando pagar, porque ninguém quer namorar um mudo, ninguém quer ter amizade com um mudo; as pessoas precisam de uma recompensa, na forma de entretenimento, ou afeto, para cultivar amizades verdadeiras. E de certa forma, uma troca mercenária, que os dois precisam doar um ao outro, caso contrário a amizade não se desenvolve. As pessoas terão no máximo compaixão por mim, como teriam piedade por um doente qualquer, mas eu nunca poderei competir de igual para igual com os amigos verdadeiro desta pessoa. Elas sempre irão gostar mais de seus amigos verdadeiros, porque eles irão oferecer prazer, diversão, boas gargalhadas, conselhos sentimentais, etc... Coisas que eu nunca conseguirei oferecer por causa da minha doença. Por isto sempre estarei em segundo plano!

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