Os outros tem solução, eu não!!

domingo, outubro 14, 2007

Os outros tem solução, eu não! Os outros tem perna para andar, eu não tenho perna alguma. Tenho um cérebro, mas é o mesmo que não ter, só o uso para me torturar. Os outros vem um horizonte descampado, maravilhoso se estendendo em todas as direção. Amam a liberdade. São a própria liberdade. Riem, dão gargalhada, pulam, e se divertem. Eu, o que sou, além de um quarto, limitado, limitante, vendo as paisagem pelo lado de fora, lado de fora se si mesmo, um quarto minúsculo, que mal posso me mover, e tudo que vejo, é um céu, e algumas plantinhas, tão pequenas, e um céu, prisioneiro, com grades que mal posso ver as nuvens voando, e que a visão é prejudicada por um poste, e fios, e outras coisinhas a mais. Os outros, tem um panorama, a perder de vista, viajam, vêem cachoeiras, não tem limites, brincam na natureza, se encanta, com o cantar do pássaro, no verdejante mundo da esperança. São livres, libertos, são alegres. Voão alto, bem alto, no pináculo mais distante do céu. Não tem medo de serem o que são. Riem, dão gargalhada, sem o medo de parecerem ridículo, sem o medo de sua voz incomodar o outro. E eu, tenho passos discreto. Ando com cautela, para não incomodar, para não chamar atenção, quando rio não faço barulho, quando falo, falo baixinho, quando existo ninguém me nota, ninguém me vê. Sou invisível. Sumi de mim mesmo, desapareci... Quem sou eu!? Quem é este ser repugnante chamado Cesar Malardo. Quem é ele!? Eu nunca me vi, nunca me enxerguei, nunca nem sequer disse: "EU EXISTO!!", "EU SOU!!".

Não vou ver o sol lá no horizonte despertando, ou se pondo. Não vou ver estrelas, verdadeiras, ao céu, no alto, como quando era criança e poderia ver milhares de estrelas e sonhar. Não vou sentir o aroma do ar ao amanhecer, num recanto da natureza selvagem, onde morava o meu coração. Não vou sentir o aroma do entardecer, o anoitecer, e os barulhos da natureza, adormecendo, ou para outros animais, acordando. E aquele sereno, aquele recanto calmo e tranqüilo. Não nada disto é para mim. Nem o mar que bate e volta, e sorri, com as suas ondas, num horizonte a perder de vista. Isto não me pertence. O que me pertence. É este quarto lúgubre, triste, que é um cemitério, cheio de ossadas, e cadáveres, de traumas anteriores, a qual preciso viver, a qual preciso conviver. O meu mundo, o meu universo, extremamente limitado. Um asqueroso cemitério, morto, e que me faz amanhecer cada vez mais morto, mais morto....

Os outros tem solução tem vida própria. Tem pernas para andar. Boca para falar, para reclamar, para exigir, lágrimas para chorar, corpo para tremer, eles tem tudo... Não conseguem tudo o que querem, mas conseguem tudo o que precisam, nem o que precisam, mas pelo menos correm atrás. Vão em rumo aos seus sonhos. Enche o peito de inspiração e coragem e dizem: "Eu vou". E vão. Para onde eu vou. Pra lugar nenhum. Para o meu refugio secreto. Dentro de peito, há um cemitério, onde acalento, os meus sonhos que não tenho coragem para realizar, os meus ideais, muito bem sepultados, tudo o que eu necessitaria para viver e ser feliz está dentro de mim, somente como uma imagem, um cadáver, para me lembrar do que gostaria de ter e nunca vou ter, apenas para me torturar. Um cadáver que apodrece dia a dia, e eu, apodreço junto com ele. E dai que brota o meu lodo, o pessimismo que ninguém entende, ninguém, o pessimismo que só eu entendo, que só eu sinto. O asco, a repugnância de ser o que sou, e o nojo de ser o que sou. Se não tivesse tantos sonhos a acalentar, tantos desejos a saciar, poderia, fingir que sou feliz. Mas não consigo disfarçar, nem para mim mesmo. O que me resta então?

Os outros tem amigos eternos e sinceros. Um ponto a se apoiar quando tudo vai mal. Ou, para se alegrar quando tudo vai bem. Não estão sós. Não estão desamparados. Tem alguém para quem voltar. Alguém para achar quando tudo falhar, tem uma pará-quedas sobressalente; quando estou triste, desamparado, quem procurar, a quem recorrer!! Não há!? Há em mim uma boca que queria falar mais não fala, pernas que anseiam correr mais não correm, há desilusões bastante para frear todos os meus anseios de vida. Sou aquele que não é, e que não tem! Estou sozinho, num quarto escuro, esperando as luzes se apagarem definitivamente, para por fim a minha agonia, ao meu sofrimento.

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