3-1 Visões subjetivas da viagem a São Paulo ou emoções despertadas

quarta-feira, janeiro 03, 2007

Eu estava totalmente em pânico, apesar de que ninguém percebeu. A minha mente estava perturbada por uma series de idéias descabidas que nunca se realizam. Estas idéias fixas em deixou num estado de alerta constante, não consegui relaxar e aproveitar a viagem. Estava também totalmente insatisfeito comigo... Ao mesmo tempo em que foi um horror foi também uma maravilha. Gostaria muito de voltar a São Paulo, nem que seja sozinho mesmo, agora que eu já sei como é. Mas, eu levaria um roteiro “pré-estabelecido” do que faria. Com mapas e outros acessórios... com os lugares que queria conhecer.

Eu tinha acordado às 05h30min AM, fiz tudo o que tinha que fazer o mais rápido possível. E depois fiquei esperando a Dra. Célia e a Andresa... Estava muito angustiado e preocupado com uma banalidade tão banal que só a minha mente poderia produzir. Tinha medo de ter algum desarranjo intestinal (às vezes o medo faz isto) ou de ter vontade de urinar, e como sou muito tímido, eu deveria utilizar uma estratégia que eu uso desde criança, durante todo o período escolar, segurar, segurar, segurar... até pode voltar pra casa; e isto, obviamente, traz conseqüências, até a morte. Mas nada disto aconteceu, consegui ir ao banheiro e tudo foi muito tranqüilo apesar do meu medo mórbido.

A Andresa estava dirigindo o carro. E ela queria, porque queria, que alguém falasse para ela ficar “desperta” ou coisa parecida. E ela estava exigindo que eu, a pessoa mais calado do universo inteiro, falasse... algo praticamente impossível, ate mesmo em condições normais... Mas como eu estava angustiado com os meus medos, feito um gatinho assustado, tremendo, não pude fazer nada a não ser me culpar, me condenar, me torturar por ser tão calado e por ter tão pouca iniciativa. Ai fiquei extremamente magoado e decepcionado comigo mesmo... Ela não poderia imaginar nada disto, de certa maneira, nem eu poderia imaginar o que ela estava passando... Com certeza, ela também estava encarando os seus medos, e eu, infelizmente, não pude fazer nada...

A viagem foi muito longa – não cronometrei, mas deve ter durado mais de três horas. A principio, fiquei fazendo uma coisa que mais gosto de fazer quando viajo, olhar a paisagem... Mas, depois de certo tempo fiquei entediado. Então, comecei a ler todas as placas que aparecia na estrada e as placas dos automóveis e caminhões também, prestando atenção na cidade de cada veiculo. Isto me distraiu um pouco...

São Paulo não é tão espantosamente difícil quanto imaginei e nem tão inacessível. São Paulo é igual a uma cidade qualquer só que muito maior... De certa maneira, perdi um pouco do medo que tinha dela e acho até mesmo que eu poderia visitá-la, tomando certos cuidados é claro, sem me perder...

Nos fomos almoçar na mãe da Dra. Célia. E eu, logicamente, fiquei envolvido novamente em meus medos e receios, não gosto de comer com as pessoas me “olhando”, sempre penso que estou fazendo algo errado e as pessoas estão me julgando... desde criança tenho este medo e ele já foi muito maior. Crio mil incidentes que podem ocorrer... e nada de terrível aconteceu, novamente, a realidade se mostrou mais “simpática” do que imaginei.

Também foi extremante fácil e tranqüilo pegar o premio Arthur Bispo do Rosário, na categoria poesia, a qual havia ganhado, com a minha poesia “Eu...”. Depois pegamos o metro para ir a estação Republica para ver a poesia exposta. Achei muito interessante a exposição... gostei muito de uma fotografia colorida, gostei porque penso em fazer algo parecido (se tiver este talento). Tinha uma seria de obras bonitas e me identifiquei muito, isto, sempre me desperta, desperta o meu lado criador esquecido... Não falei nada do metro. Estava morrendo de medo de me perder ou de pensamentos mais horrendos que me vinha na cabeça. A Dr. Célia cuidou de mim e da Andresa. A Andresa estava com muito medo do metro por causa da sua velocidade, de certa maneira, eu me adaptei rápido e até gostei da viagem.

Não anotei nada da viagem a São Paulo e como sou esquecido já não me lembro de muita coisa. Passamos na frente de um cemitério, bem que eu gostaria de ir lá, para ver os mortos, as esculturas, as fotografias e tudo mais... o universo dos mortos me fascina muito, vai ver porque sou mais morto do que vivo e me identifico mais com os mortos do que com os vivos.

Na volta a Andresa teve uma crise. Estava chovendo um pouco e a Andresa morre de medo de chuva. Então a Dra. Célia parou o carro para acalmá-la. A Andresa reclamou de seus medos, a qual ela exteriorizava com muita freqüência. A grande diferença entre os medos da Andresa e os meus e exatamente este, ela exterioriza e eu interiorizo... Fiquei em pânico, de diversas formas e com medos diferentes, durante toda a viagem só que não informei isto pra ninguém. Precisa resistir e suportar sozinho, devido à timidez... Num certo sentido a Andresa tem sorte de poder exteriorizar os seus medos porque ela ganha apoio... e comigo ocorre o contrario, apesar, das pessoas notarem que estou com medo de alguma coisa só que elas não sabem do que...

Na volta para Ribeirão Preto, devido à viagem e o movimento do carro e a monotonia da paisagem ou do cansaço propriamente dito, estava num estado de transe quase dormindo... desta vez eu estava no banco de trás e a Andresa no banco da frente. Então eu não fui “convidado” a falar com ninguém, por isto, me isolei no meu universo particular. Enquanto, de vez em quando a Andresa e a Dra. Célia Falavam alguma coisa... Reparei na quantidade enorme de pessoas que vendiam uva na beira da estrada, devia ter passado, mais de trinta. Engraçado que a Dra. Célia confundiu estes vendedores, uma vez, com um radar, e todo mundo riu... No final da viagem contei quantos quilômetros faltavam para chegar a Ribeirão Preto, um a placa informava a quilometragem da estrada, quilômetro 40, 39,38 assim por diante... E novamente, estava envolto em outros medos, a qual guardava pra mim e sofria sozinho.

Quis tratar, neste relato, mais particularmente o meu estado emocional... já que neste blog priorizo este aspecto no que concerne ao meu diário propriamente dito.

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