Ter que carregar uma cruz destas, 24 horas por dia é insuportável. Pensem em realizar qualquer trabalho, por menor que seja, ou mais insignificante e ter que lidar com o sentimento de que não somos nada, não prestamos, e tudo será perda de tempo. Quando isto ocorre me dá uma “preguiça mental”, deito na cama e quero dormir para sempre, sou invadido por um estado de apatia, melancolia, toda a fibra do meu corpo se sente extremamente cansada, saturada, não tenho energia nem para mover um dedinho, ou abrir de leve os meus olhos, um estado de desanimo inimaginável... é a soma de todas as frustrações de uma vida inteira, de todos os desejos não realizados, ou pior dos desejos reprimidos, a auto-estima é tão baixa que me julgo o ser mais repugnante do universo, um verme inútil que rasteja pedindo amor... Olhar para si e sentir que os outros estão com nojo da gente, e estão perguntando: “ O que este monstro está fazendo aqui? Como ele tem a coragem de invadir o reino das pessoas dignas, belas e perfeitas!? Por que ele não morre, para o bem de toda a humanidade ou se enterra num buraco fedorento, no esgoto, cheio de baratas e ratos que é o lugar onde mereceria estar? E quando imagino que as pessoas estão sentido isto de mim, é tão real, e por mais que tente mentalizar o contrario, o meu cérebro maldito não me obedece começo a passar mal, chega num momento, que não suporto mais, e sou obrigado a me isolar, por que não queira me isolar, sou obrigado, não tenho outra alternativa.
Na minha cabeça furada, sei que nunca ninguém vai me amar de verdade, sei que nunca vou ter uma namorada e nem amigos de verdade e reais, porque conheço a minha total ausência de qualidades, e conheço a presença total das deformidades que me transformam num monstro repugnante, ( não sei conversar, nem contar histórias, não sei aconselhar nem levantar a moral de ninguém, não tenho a aptidão de fazer os outros rir, ninguém contaria um segredo para mim ou pediria um conselho, nem estando na “fossa”, pediria os meus conselhos. Quem vai gostar de um mudo como eu!?). Sei que o meu destino é e sempre será a mais negra, desoladora e opressiva solidão, nunca serei nada e nunca cultivarei valores ou talentos, morrerei tal como nasci, destituído de poderes, a minha vida será uma apoteose a inutilidade e a perda de tempo, a minha existência foi um erro do começo ao fim.