Um outro ser que não seja eu

quarta-feira, agosto 01, 2007

Se eu fosse uma outra pessoa, certamente me detestaria, mais do que me detesto atualmente. Para falar a verdade não sou nem mesmo uma “pessoa” no sentido literal da palavra. Sou um cruzamento de um porco espinho, com um gambá e uma arvore com os galhos secos, que não dá nem flores, nem fruto e nem sombra, misturado com uma anta asmática, um burro empacado e assustado e cinzas de um morto que sofria de hemorróida, fimose, cânceres generalizados, demência e senilidade, associado a um bicho preguiça coxo e com depressão... Eu poderia ficar a vida toda inventando novas configurações para me descrever, e com certeza faço isto com muita Constancia, por isto sou chato e irritante. Calado ninguém gosta de mim por estar calado, mas quando resolvo abrir a minha boca, esta latrina asquerosa vinda diretamente do inferno, as pessoas gostam menos ainda de mim e torcem para eu ficar mudo, pois mudo sou mais simpático, carismático e comunicativo, pois quando abro a boca só consigo repetir insistentemente que ninguém gosta de mim, e que quero me suicidar e a reclamar da vida e do meu sofrimento... Ser uma pessoa obsessiva, e com idéias fixas, causa uma dor terrível nela e nos outros, não conseguir de jeito nenhum mudar a maneira como o cérebro funciona, os trilhos trilhados pelo cérebro são sempre os mesmos e as respostas são sempre iguais... Quando o cérebro resolve eternizar um modo de operar, não sei se é biológico, genético, psicológico, ninguém consegue mudar o seu funcionamento, nem mesmo, ou principalmente, o pobre diabo que detém este cérebro. E uma das razões principais é o conceito abstrato e subjetivo do “eu”, se não existisse este tal de “eu” tudo seria mais fácil; o “eu” esta ligado a aspectos relacionados com a auto-estima e um amplo leque de conceitos ligados a ele, como sentimentos de auto-afirmação, insegurança, inferioridade, projeção do “eu” no futuro no campo de existência social e externa, e toda uma serie de informações que situa o ser humano num determinado campo de atuação... As pessoas agem segundo a visão que tem de si, uma pessoa pode ser um gênio, inteligentíssimo, mas se não tiver amor-próprio, terá uma vida mínima e com pouquíssimas realizações; talvez num futuro, quando esta pessoa morrer, se descubra que ela foi um grande escritor, artista plástico, musico, ou cientista e que não conseguiu, enquanto vivo, promover o seu trabalho, ou até mesmo melhorar o seu trabalho, por ter problemas com a auto-estima e seu relacionamento social ser extremamente limitado. Antes de uma pessoa escrever um livro, por exemplo, ela precisa confiar nas suas habilidades; se ela ter uma auto-estima abalada, mesmo tendo possibilidades de escrever um livro tão genial quanto os maiores já escritos, ela nunca irá conseguir escrever e o seu talento ficara latente, guardado somente para si e o mundo perdera mais um gênio. Geralmente as pessoas, na sua maioria, podem realizar muito mais do que realizam, bastaria acreditar em si, e superar as dificuldades uma a uma sem esmorecer. Mas só eu sei como isto é difícil, mudar a visão de si, e dizer “eu posso”, quando todos os neurônios estão gritando “você não pode”... e no final das contas acaba não podendo mesmo. E por isto e outros motivos que fico dividido e acabo sempre repetindo “não sei”...

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