Monólogos de uma sombra deficiente, perdida em seus pensamentos catastróficos

terça-feira, julho 31, 2007

Era um dia, igual aos demais, sem nenhuma diferença aparente em comportamento, porém existia uma diferença substancial, que os olhos imprecisos e vagos dos homens não percebiam... Os vestígios se espalhavam, como um aroma impregnado de esperança, no entanto, por dentro estava morta, só os olhos mais comovidos poderiam reparar neste aspecto mais profundo do movimento infinito dos corpos em decomposição. Tudo, apesar de vivo, e, respirar ardorosamente o ar da vida enfaticamente, estava morto, uma morte tão morta que espalhava pelo mundo todo o fedor espectral e sinistro da podridão... Os seres “lindos” não admitiam esta afirmação e viviam na ilusão, enganando a si mesmos, negando a realidade das coisas, criando um mundo próprio onde a felicidade reinava soberanamente... Em meus pensamentos tudo estava solidamente esquematizados, concatenados ordenadamente, precisamente elaborado, na mais alta sabedoria... Eliminando todos os resíduos que a ignorância das emoções nos deixa... Assim sendo sou um foco controlador e centralizador, um sol a brilhar eternamente na escuridão absoluta a qual as forças irresistíveis do sono profundo proclamam... viver ou morrer, eu já tomei a minha decisão...

As vozes não me dizem nada, somente o lamento eterno de todos os mortos e moribundos, e de todos aqueles que se comprazem com o sofrimento. Se eu me ater as vozes, bestiais formas de sabedoria vindas dos desconsolados, dos defuntos que se transformaram-se em demônios, serei devorado por dentro até me restar um resto que não é um resto é lixo podre e imundo. E estas vozes estão em mim, nas profundezas do meu ser, porque elas refletem a minha personalidade, o meu modo de racionar... Elas não são diferentes de mim... Representam todos os sofrimentos acumulados, os desejos reprimidos e todas as lacunas que há em minha alma derivada da loucura de ser alguma coisa, a necessidade implícita de representar um estrutura de conhecimento em relação com o que há no exterior.

Morrer seria pouco para mim... Quero a total dissolução, o desaparecimento, o voltar atrás e a restituição de toda a dor que senti por estar vivo, não há maior mal que a vida, o acordar do nada para a existência e sua continuidade lamentável. Quero de volta toda a paz que a inexistência nos da, mas quando passamos a existir a marca da existência nos marca como uma maldição, deixa uma macula que nunca será reparada... Como mortos-vivos iremos perambular eternamente pela senda desgraçada da existência, indo de um lugar para o outro, sem rumo, perdidos, no labirinto intricado do vácuo da nossa própria existência, porque a existência não é nada mais que um vácuo, de uma inexistência para uma semi-existência... A morte é um todo harmonioso, e a vida é um “tudo” que falta tudo e nunca se harmoniza...

O meu pior pesadelo esta se realizando. O nada em plena vida, antes estivesse profundamente morto, o tédio a pior forma de sofrimento, e o cansaço de viver e não estar completamente vivo... e nem de ter coragem pra viver... Energia psíquica pra colocar em pratica um modo de operar qualquer, somente a terrível dor do nada em vida... Para quem vive assim é melhor morrer. Assassinas em si o instinto de viver e partir para a eterna segurança da morte, onde todos os sonhos desfeitos e as expectativas frustradas são saciadas... Só o nada-morto pode aplacar a fúria enlouquecida do tudo-vida.

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