A repetição das dores

sexta-feira, agosto 03, 2007

Não canso de me repetir. Quem sofre verdadeiramente não para de sofrer nunca; e é sempre o mesmo sofrimento pelas mesmas motivações e sentimento de “insuficiência”; quando algo falta em nós, como uma peça fundamental do nosso funcionamento, seja um “amor”, auto-estima, sentimento de realização, algo vital, emocionalmente falando, então passamos a viver em função desta brecha psíquica, por onde todo o nosso aparelho mental esta baseado. Não conseguimos nunca seguir em frente, ver novos horizontes e dar o primeiro passo, fica-se imobilizado, repercutindo, como numa câmera fechada, o eco eterno do nosso pesar, nunca se dissipa, nunca morre, até... esta resposta definitivamente não tenho. Pois estou imobilizado, desde o meu nascimento, remoendo magoas, marcas psíquicas e traumas, sem achar uma saída para este labirinto infernal, feito de dor, morte e a total ausência de motivação... Pensam que o tempo cura tudo, grande engano, quem nunca sofreu um grande trauma, não sabe o como isto é uma mentira. Uma ferida superficial, que não penetra no centro da alma, pode ser que o tempo cure, mas quando a alma é destroçada e todo o seu ser é corrompido, uma avalanche destruidora de sensações mexe profundamente com o seu ser e toda a sua noção de realidade é destruída, os sonhos e ideais mais lindos que você desenvolvia é despedaçado em segundos, e não sobra nada diante de si, somente a fuligem a voar ao seu redor, o carvão incandescente do fogo que consumiu toda sua alma... Todas as flores, arvores, o jardim do seu psiquismo foi dizimado instantaneamente, sobrou um deserto, uma paisagem opressiva onde o cadáver do que tu eras esta espalhado, carbonizado, e os vermes da decomposição consome o resto que ainda teima em viver, a podridão e o único cheiro que a sua alma exala; um ambiente assim não há salvação e nem o tempo pode curar as suas feridas. O meu sofrimento não é invenção e nem um evento fortuito, ou uma “farsa” de mim para mim, é uma escalada de acontecimentos em degrade, que vem e volta. Só quem sente sabe, e respeita e da valor ao meu sofrimento. Os outros nem podem imaginar o que se passa no meu interior, a grandeza anômala de dor e a evaporação do ser. Um sentimento generalizado e crônico (patológico) de insegurança, medo, ansiedade, angustia e uma percepção inexprimível de solidão incessante. Não só uma solidão de pessoas, mas uma solidão que é a soma de todas as vezes que me negligenciei e me deixei estar abandonado, levado, contra a minha vontade, por forças externas. Quando depois de ser abandonado por pessoas, me sentindo inútil, feio, repugnante, invalido, deficiente, etc., acabei por me desamparar e a não ter controle pela minha vida, sendo levando pelo mar de ações externas, evitando o confronto, suprimindo todos os meus desejos e necessidades, anulando-me completamente, vivendo uma “sub-vida”, esperando a morte; ou aguardando que alguém me salve e me de todo o amor que necessito, porque, por mim, não existo e não valho nada, e nunca poderei me amar a ponto de buscar o que a minha alma aspira. E este é o final triste e melancólico da minha vida. Minha alma anseia tanto por um carinho, por um aconchego, aquele calorzinho que aquece o coração e faz tão bem e é capaz de expulsar todos os demônios que habitam em nosso ser, e por uma fração de segundos todos os problemas vão embora e toda a angustia desaparece, sentimos a pessoa mais feliz do mundo e nenhum mal poderá nos afetar, sentimo-nos tão especial...

0 comentários: