Histórias, fatores matemáticos e psicológicos, reações adversas e infância reprimida

domingo, maio 06, 2007

É obvio que de certa maneira as pessoas tentam culpar os outros pelos nossos problemas, que estão relacionados a maneira de como enxergamos a vida, e existe neste ínterim, um meio termo, onde fatores internos e externos estão inter-relacionados de tal forma que não podemos distinguir um do outro e ficamos semi- erdidos, não tendo uma visão clara do que é ou do que não é... Em meio a todas estas fantasias, existe o real, que a nos não nós parece tão real assim.... Lembro-me que na infância lutei com todas as minhas forças para não ir a escola, independente do motivo, e era obrigado pela minha mãe e pelos professores a permanecer num ambiente que para mim era extremamente hostil... Berrava, brigava, chorava, esperneava e usava todas as artimanhas que uma criança de seis ou sete anos usaria para impor a sua vontade, ou o seu eu... A minha mãe me carregava como se eu fosse um saco de batata, e os professores me colocavam na sala de aula, e pelo choro, era humilhado e hostilizado pelas crianças, que representavam toda a sociedade naquele momento, tentava me defender, gritando, com todas as minhas forças, girava tentando bater em todos, e nada adiantava, quanto mais nervoso ficava tudo piorava, quanto mais chorava tudo piorava, quanto mais tentava me impor mais humilhado e achincalhado era... Continuei nesta estratégia por um bom tempo, até que percebi que não adiantava nada, então desisti de lutar e me entreguei a uma inércia que dura até hoje, algo chamado de Síndrome do morto-vivo. Consiste no seguinte, quando o ambiente externo apresenta alguma ameaça crio um casulo e como uma carapaça, curvo o meu corpo e olho para baixo, fico imóvel e estático, esperando que a ameaça vá embora. E esta foi a minha vida escolar, sentava num baquinho, no recreio e ficava estático até o sinal para entrar, na sala de aula, fingia que prestava atenção na aula. E os professores me “adoravam” porque era quietinho e não dava nenhum trabalho para nada. Desde cedo, depois deste incidente, foi acostumado a reprimir os meus desejos, a não me defender pra nada (a única defesa que eu usava e ainda uso em momentos de crise e fingir de morto), fui moldando a minha personalidade para isto. Na minha mente não posso defender os meus interesses porque os outros irão reprimir as minhas vontades, e não adianta “brigar” porque a briga não tem fim, ela continua eternamente e quanto maior a briga maior será a violência e a humilhação contra a mim; o que gerou um sentimento de “problema sem fim”, a qual eu deverei viver eternamente, com isto, a solução é impossível e daí vem o meu pessimismo. É uma formula matemática precisa. E claro que reprimir os próprios sentimentos e necessidades não é bom pra ninguém, nem muito menos ser forçado a fazer uma coisa que detestamos, por um motivo ou outro, e viver solitariamente, com ódio dos pais, porque eles não te protegeram no momento que você necessitava, ou desconfiar de todos pois você foi humilhado é um causador de uma séries de modificações na personalidade, muito mais, por ter vivido assim a maior parte da minha vida, e ainda assim sempre recorre a este modelo de comportamento.... com um sentimento de que ninguém se importa com você e todos sem nenhuma exceção é o seu inimigo, recalcando aspectos negativos como desmerecimento, impotência, distorcendo a auto-imagem e perdendo a capacidade de viver na realidade, pois o único mundo onde poderia realizar e expressar as minhas qualidades era dentro de mim, através da imaginação, como um mecanismo de recompensa....

Com as pessoas que me humilhavam, eu criei um mecanismo de amor e ódio que perdura até hoje em relação as pessoas, um talvez algo parecido com Síndrome de Estocolmo. O único relacionamento que tive durante a minha vida foi com aqueles que me humilhavam, para me humilhar eles deveriam se relaciona comigo, e para “fingir” que tudo estava bem, criava um laço de amizade com estas pessoas, “levando na esportiva”, como se diz... As vezes estas pessoas me tratavam como gente, me valorizando e me “dando um amor” que as outras pessoas não me davam, mesmo que para isto precisava pagar o preço de ser humilhado quando assim o desejassem. Daí veio a relação que eu disse anteriormente de amor e ódio, ao mesmo tempo que via neles um amigo por me dar uma atenção que ninguém me dava ( as pessoas que não me humilhavam e me mantinham em distancia e que não conseguia me aproximar ), também nutria um descomunal ódio pelas vezes que me humilhavam. Naquele tempo o único convívio que poderia ter era este. Isto tudo ocorreu depois de ter me isolado, depois do primeiro ano, na quarta e quinta série em diante, pois nos primeiros anos de escola fiquei totalmente isolado.

Hoje preciso conviver com tudo isto. E este esquema mantém-se praticamente inalterado, salvo raríssimas oportunidades, onde consigo ser eu mesmo, porque desde criança reprimo o meu verdadeiro eu, pelos acontecimentos relatados no principio deste artigo. Para me “soltar” é necessário ter uma quantidade muito grande de fatores externos, como se eu fosse uma tartaruga que coloca o seu corpo no casco, e quando tudo vai bem, coloco os pescoço e as perninhas para fora, mas ao primeiro incidente regrido totalmente e me isolo novamente. Tenho poucas capacidades de comunicação, penso que a minha memória é péssima, porque nunca treinei ela, já que nunca precisei relatar historias para outra pessoas, o que deve ser mais desenvolvido em mim é a imaginação, que foi a minha tabua de salvação, o único recurso que me sobrou para me desenvolver... Quando me relaciono, tenho mais facilidade em “brincar”, acho que todos os tímidos são assim, e nisto não vejo limites quando o ambiente externo é propicio... em relação aos sentimentos, não consigo ficar “serio” e fujo destes assuntos... Brincar é sempre mais fácil do que falar sobre assuntos importantes... E muitas pessoas poderão ter uma visão totalmente errada de mim, imaginando que sou “brincalhão”, na verdade, isto é o que me sobra, o que me resta para me expressar, e até nisto reside um problema gravíssimo... se fosse mais serio e tratasse de certos temas sérios parte dos meus problemas estariam resolvidos, mas prefiro me resguardar, principalmente em no relacionamento com outras pessoas. Quando estou sozinho, sou na maioria das vezes, triste, melancólico, pensativo, oras, através da minha imaginação cultivo um mundo repleto de fantasias megalomaníacas e tragédias que podem ocorrer na minha vida.... E a maior tragédia que posso conceber é ser abandonado, ignorando, ou não ser amado na medida em que gostaria de ser amado. E isto ocorre em tal proporção que sinto-me rejeitado, excluído, deslocado, e abrigo-me no meu mundo interno, as pessoas pensam que estou “concentrado”, ou ocupado, na verdade estou me isolando mais e mais... quando fico olhando fixamente para um ponto e não me mexo, é uma tentativa de “cortar” as relações afetivas não satisfeitas, internalizando-me, como se tivesse o poder de fazer o universo desaparecer e concentrando-me exclusivamente em mim, idolatrando-me... já que o “universo” me exclui resta somente a mim... é um refugio, uma fuga...

O que muitas pessoas vêem com coragem em mim na realidade é uma demonstração cabal de covardia. A minha capacidade de resistir ao sofrimento é muito grande. Porque venho reprimindo todas as minhas necessidades, vontades, ideais, sonhos, desde muito cedo... Para muitos estou enfrentando uma situação de peito aberto, é um engano grandíssimo.... O dia que tiver a capacidade de no meio de uma “reunião” dizer:, “Quero ir ao banheiro, quando estiver com vontade”, ou, “Quero beber água, quando tiver cede”, ou “ Não estou passando bem, quero ir embora”, isto será uma demonstração de coragem, estarei bem próximo de uma cura definitiva... Sou tão covarde que não fujo de uma situação constrangedora que me causa muito sofrimento... prefiro me fingir de morto, não importa o quanto estou sofrendo...

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