Cartas para o invisível de um suicida plenamente convencido

sábado, maio 26, 2007

Sei que a vida é parcialmente ruim, ou melhor dizendo é tremendamente pavorosa, e em meio a tudo isto, a minha vida esta entidade morta, sucumbindo ao peso do próprio fracasso, no paradoxal e irreprimível mundo... E pelo próprio ostracismo a qual a minha vida esta inserida resolvi colocar definitivamente um ponto final a todo o meu sofrimento... Oh, mundo cruel, todos dizem isto, no momento que resolvem se matar, mas comigo será diferente, pois não só matarei a minha vida, matarei toda a distinção que se faz entre a vida e a morte. Sei que sou fraco e não tenho nada a perder... alguns vivem e amam a vida, eles se enquadram e não se sentem “isolados”, nem deslocados de si mesmos, cultivando um vazio e um sentimento de total impotência diante de toda a luta injusta que a vida propõem... Não é uma condição real de sublimação, mas uma visão particularmente subjetiva do que metaforicamente se chama de realidade. Há em mim, desde o nascimento, um sentimento de insuficiência plenamente realizado, uma incapacidade de gerir a minha própria vida, uma força que amalga e mobiliza uma entidade que assumiu a sua própria realização... algo a qual estou a anos luz da sua realização. Por ser detentor de uma vida que apodrece por falta de utilização, e por não ter disposição nem de caráter e morar; apesar de estar vivo e viver como se estivesse morto, resolvi entregar esta entidade, e que não tem nenhuma serventia para mim, de volta para o criador; que ele faça dela o uso que a minha covardia nunca pode fazer.

Quando se tem uma visão negativa da vida inserida a si de forma absoluta, onde não há nenhuma outra opção, quando a luz parou de brilhar e só há espaço para a escuridão; o pessimismo é uma fonte inesgotável de desespero, um estado de espírito que mobiliza as forças mais sinistras e destrutíveis, esta força contamina as entranhas mais profundas da alma e corrompe toda a visão do mundo, não deixando outra escolha... A solução final e irremediável não pode ser adiada nem por um segundo.

O pior dos pesadelos e acordar e perceber que se esta vivo... Qual é o valor da minha vida? Para o universo, diante da minha total insignificância, qual é o valor que ele atribuiu a minha vida? Diante dos bilhões de pessoas, com seus valores e aptidões e sua luta valorosa para se manter, qual é o valor da minha vida mal vivida? Se a minha vida acabar vai ocorrer alguma modificação no universo? Qual é o valor que a vida tem além de si mesma!? Qual é a minha colocação no coração das pessoas? Tenho algum valor para a sociedade? Enfim... Qual é exatamente o valor da minha vida, e porque manté-la viva!!!? E qual é o significado da vida além de existir por um brevíssimo tempo, e depois... descontinuidade. Não há uma certeza definitiva, nem para frente nem para trás, somente um angustiante campo de incertezas, onde a certeza mais verdadeira é a consumação da morte. Esta inimiga traiçoeira que sempre vence a guerra, e porque não desistir da batalha antes... já que é inútil lutar. No máximo deixamos uma marca tênue, no mundo, na sociedade, no coração das pessoas, que logo se dissipara, e a nossa existência terá sido em vão... resumidamente do nada para o nada, com uma passagem rapidíssima por uma existência efêmera e irreal. E eu pergunto abismado pra que insistir? Os vivos estão correndo contra a maré da entropia. É melhor morrer... Então, paremos de nos iludir, e esperar uma réstia de prazer e emoção não vivida, abrassemos com convicção a morte... Não de valor a aquilo que não tem nenhum valor, não se iluda, o otimismo é uma faceta pessimista, uma visão distorcida da realidade, uma lente colorida para ver uma realidade negra e opressiva... ser otimista e iludir-se, o pessimista consegue entender a realidade da vida com exatidão. Pare de sofrer e morra, para de se iludir e morra, pare de conjugar valores e significados para vida (você não vai encontrar nenhum verdadeiro, desista desta busca inútil) e morra, pare de amar (o amor só irá lhe trazer sofrimento, falsas expectativas, dependências, perdera a soberania e se transformara num fantoche obcecado, o amor é uma obsessão demoníaca) e morra, pare com tudo isto que são tolices inúteis e morra... não há outro caminho concebível, nenhuma outra saída, nenhuma outra opção... não há... não há... O único caminho que existe é a morte, fixe nesta idéia obsessivamente e morra.

PS. Se você não for EU, nunca, nunca siga os meus conselhos, nunca... Eles são todos inúteis, e só servem unicamente para mim!!!

1 comentários:

Anônimo disse...

Heyyyy nem pense nessa idéia não! Tanta gente lutando pela vida, e vc, um rapaz saudavel, bonito e inteligente pensando nessas coisas! Pára com isso! já passei por isso e pode ter certeza que é tudo questão de ponto de vista, de como olhamos para o mundo e principalmente como olhamos para nós mesmos. Tudo começa pelo nosso amor próprio. A partir do momento que vc começar a se amar, vc vai passar a olhar com outros olhos a vida..