3-4 Ser uma fonte de prazer!?...

sábado, janeiro 27, 2007

Ser uma fonte de prazer perpetua é uma visão arriscada do jogo. Inspirar sonhos e devaneios, construir castelos de areia, entreter... Trazer um sorriso de alegria, apaziguar dores ocultas e sentimentos de melancolia... Transformar escuridão em luz... E eu, posso ser “luz”, tenho algum brilho interno!? Em suma, sou uma fonte de prazer inesgotável ou um tormento medonho? Tenho o poder de incendiar um coração humano com pura felicidade? Esta é uma duvida atroz que atormenta a minha alma. Não sei como me colocar diante da sociedade, fico procurando um meio de me expressar e transcender as perdas e achar um ideal para me impor, de uma forma doce e tranqüila... entretanto, só consigo antever perigos pot todos os lados. AS pessoas exigem prazer acima de tudo, principalmente nos relacionamentos afetivos, não tem paciência para amparar e ver a outra dimensão humana. Aquela que se esconde na sujeira, na podridão e necessita de sofrimento para poder viver, para poder crescer e até para ser.... O que seria da luz sem a escuridão?

Eu, tão eu, que dá até dó, no entanto, não sei como explicar, porque é tão nitidamente meu, como uma parte integrante da minha personalidade que não posso reincidir. E preciso realmente? Tudo são metáforas desarticuladas, que não tem vida, mas que resumem toda a minha historia. Se existe sofrimento ou se é fruto da imaginação não posso saber. O sofrimento, a duvida, o “não sei” é uma parodia da minha vida quotidiana. Entrelaçado com um certo amargor utópico e um sentimento de grandeza, uma impressão inexpressiva de solidão. Tudo isto, se é que isto é tudo, representa diariamente uma dor que precisa ser expirada. Um sentimento que precisa ser devassado. Perdi-me em qualquer momento!?...

Resumidamente, queria que as pessoas se apaixonassem por mim, me amasse de uma forma tão visível e inquestionável, que nada poderia mudar este sentimento. No entanto, não tem por onde, não tem como conseguir, é ilusão, porque o meu coração não quer se dar.

3-3 Preciso escrever mais

Preciso escrever mais para agradar a minha única leitora assídua. Ultimamente, devido a crises psicológicas já relatadas estou escrevendo menos. E, saber que existe alguém que lê o meu blog me anima a dedicar mais. Porque todo dia tenho idéias, mais ou menos (é uma palavra chave para definir o meu estado psicológico), genial. É genial, se é que é genial, porque eu concluo sozinho, sem estudar muito um assunto. Imagine se eu fosse um estudioso digno e verdadeiro. Eu não sei se isto ocorre com todas as pessoas, mas quando mais eu penso, mais eu encontro “idéias geniais”. Como se a minha mente fosse uma caixinha que quando mais procura, mais coisas surpreendente encontra. Como se fosse um universo novo que se renova todo dia... Talvez isto ocorre com todos, dentro do meu mundo hermético, não há como obter parâmetros para chegar a uma solução valida. Na maioria das vezes as pessoas, penso eu, perde tempo pensando em trivialidades sem importância ou procurando algum prazer para saciar o seu vazio existencial, ou o mar de angustias que todos estão assolados. No meu caso, faço o contrario, quero ver a imagem refletida no espelho antes que esta imagem tenha se formada. Ou seja, quero ver o que acontece antes do pensamento se tornar pensamento, ou antes da emoção se tornar emoção. Para, num mecanismo de reengenharia reversa, entender o funcionamento do cérebro. E ai, consigo controlar a mente e me tornar mais feliz, sábio, e encontrar motivos para estar vivo... ou para gerenciar a minha vida com mais autonomia. Talvez esteja errado. Mas é necessário que alguém tente algo novo, já que todos estão engessados na mesma cadeia de pensamentos.

Eu tinha decidido que iria escrever textos curtos. Acho que as pessoas na internet, não têm paciência para ler textos longos. Mas infelizmente quando começo a escrever não paro mais.

Pensamento Linear

O pensamento é linear e funciona por associações diretas. Os assuntos são categorizados por semelhanças e proximidades e a partir deste ponto são expandidos, ganhando novos contornos e soluções. Isto se vê diretamente pela lingüística e verbalização, uma palavra pede outra, nenhuma outra encaixaria neste contexto. Há sinônimos que são vari9ções de um mesmo significado e pode variar de uma pessoa para outra. No entanto, a direção do texto, por ser “entendível”, é linear e tem uma rota predefinida. Tudo aquilo que é “entendível”, tem uma direção definida, e uma estrutura “simplificada”, por conter símbolos universais. Quando a estrutura do texto, por exemplo, tem um grau de complexidade, ou vários subtextos sinuosos, propositado pelo autor ele pode parecer difícil, no entanto, este é um emaranhado que contraria o próprio funcionamento do cérebro. Que é analisar, categorizar, criar semelhanças e simplificar, simplificar sempre.

A invenção da fala e da expressão escrita mudou completamente a maneira como o cérebro e a mente funcionam. Porque foi daí que os significados e os signos e símbolos foram criados, a memória precisou ser ativada fortemente, e as relações entre eles precisaram ser analisados. A mente foi definindo os paramentos da realidade, nomeando os objetos, expressando estas impressões aos outros, num grau de complexidade maior. A diferença que existe entre a expressão “artística” dos homens da caverna até os dias de hoje mostram como esta evolução se fez. Os desenhos ganharam luz, sombra, perspectiva a anatomia foi retratada com perfeição. O mesmo se deu com a língua falada e escrita... e a maneira como a realidade era representada.

Tudo isto foi possível pelo método associativo do cérebro e a categorização dos elementos, criando relações complexas a partir de uma base simplificada. Os elementos demandam uma associação por semelhança e proximidade, numa ampla teia de significados que vai crescendo numa direção predefinida até chegar a sua conclusão. O começo, meio e fim.

O que é o “eu”?

sábado, janeiro 20, 2007

O que é o “eu”? Qual é a diferença que existe entre o meu “eu” e o “eu” dos outros. Experiências subjetivas amalgamadas por traumas e desejos. Ou, obscurecidas pela inter-relação com o torvelinho desenfreado da sociedade, de nós mesmos e do mundo. Ou uma ficção de nós mesmos. O “eu” é uma criação da vida para defender a própria vida e expandir a consciência para outros níveis, porque a vida é uma forma de “parasitismo” virótico que quer agregar todo o universo. Mas na realidade o “eu” não existe, é uma emancipação de si mesmo, uma desestrutura mental, uma ruptura social, um afastamento; para tapar o buraco psico foi necessária a criação de um ser que pensa a si mesmo, quando o egoísmo deu origem ao “eu” e a sociedade padeceu por esta decisão. O “eu” é fundamentado pela superação do outro e a competição atroz que sempre foi um tópico importantíssimo da constituição da vida, onde todas as “vidas” estão competindo para que os fortes prevaleçam e os fracos sejam eliminados. E o “eu” é quando a vida se torna auto-consciente e o seu projeto inicial ganha estrutura e diretrizes auto-regulamentadas, a interação com o meio ambiente e a evolução lentíssima, por tentativa e erro, não sustentavam a ganância da vida, que teve que inventar uma forma mais forte e abrangente, investigando todos os parâmetros da realidade e se adaptando e a modificando com uma rapidez espantosa. Talvez o ápice do “eu” é a criação de um ditador e a supressão do “eu” a santificação de todas as virtudes. Numa medida “exata”, a vida, com sua sabedoria milenar, teve que dosar com perfeição o “eu” que deveria estar em sincronia com o “nos”; criando um “eu” social que é a somatória de todos os anseios de um povo e lutando contra tudo o que fosse contrario a este desejo. Porque o “eu” enlouquecido por atenção e poder colocava em risco o projeto da vida que teve que colocar um pouco de “carência” ou a necessidade do outro para se completar. Neste ponto as “consciências” procuram criar uma regra unânime para sustentar a sua permanência e evolução, criando relações por finalidades e simpatia. E o “eu” se torna uma expressão de adesão a todo o conjunto de informações sociais que estão circulando. E o “eu” que nasce para ser “individual” e senhor de si se torna “universal” e dirigido por leis sociais que estão em evolução.
Mas como “eu” sou “eu” e represento todas as duvidas, oriundas de todos os complexos de inferioridade e desmerecimento e sentimentos de abandono, carcomido por uma síndrome da passividade crônica, recalcada por uma falta de orientação e um estudo filosófico profundo, e como o meu “eu”, é um embrião mal formado ou um feto morto (um quase ser), não posso e nem devo ter uma opinião formada ou certeza absoluta, fortemente estruturada ou amparada por evidências cientificas e respeito de nenhum assunto.

Se é que eu realmente exista

Não sei exatamente se existo. Ou se é uma fantasia. Acontece, que a existência é uma dor lancinante que incomoda o tempo todo. Hora a hora esta dor toma outro rumo e encontra outra medida pra se expressar. Talvez esta seja a razão é a predominante causa da existência. Uma dor infinita. Um sentimento de incompletude, que demanda atitudes contraria a este vórtice de dor e culmina na própria e eterna reconstrução e a modificação da realidade a qual estamos enquadrados.

Predisposição Mental

sábado, janeiro 13, 2007

Decididamente, eu não ia escrever nada. E, cada vez mais, esta ficando mais difícil para eu escrever. Antes escrevia muito mais, agora quase não escrevo. E já estou vendo o dia em que abandonarei completamente o meu Blog e não escreverei nada mais. O ritmo esta diminuindo dia a dia. E, quem lê o meu Blog – se é que existe alguém que lê o meu Blog -, já sabe os meus motivos. Porque eles são sempre os mesmos: auto-estima baixa, desconfiança do meu “talento”, insegurança, pouca repercussão do que escrevo, pouco acesso a meu Blog – e eu, sozinho, não tenho coragem para fazer propagando do meu blog, comodismo; e tudo aquilo que se refere a se sentir um “nada”, um sentimento incrivelmente persistente, quase obsessivo. Se não tenho ninguém pra ficar me “empurrando” eu sempre acabo desistindo de tudo e vivo a mercê do eterno vai e vem da minha auto-estima.
Este prólogo foi escrito na intenção de elucidar um tema que eu estava pensando a respeito da predisposição mental ou “preconceitos”, ou o automatismo do cérebro humano, quando a mente cria uma cadeia de pensamentos onde sintetiza a personalidade das pessoas e conjuga para isto sentimentos e estados de espírito para criar um comportamento tal, que seja auto-justificado para a totalidade e o conjunto total que define um ser humano. Chamasse comportamento reincidente, algo que eu inventei agora. O meu cérebro conhece antecipadamente, todos os meus medos, neuras e todos os sentimentos a qual uso como um espelho para me ver e para identificar-me ou classificar-me segundo vários paradigmas, e como eu vou me relacionar comigo mesmo e com a sociedade. O cérebro, que surgiu antes do “eu” existir, conhece mais profundamente eu do que eu próprio e neste caso ele dita o que devo fazer, e para isto, ele vai pegar certas disposições mentais predefinidas, que são a somatórias da minha visão de mundo, conjugações de medos, traumas, e como eu lido com o sucesso e o fracasso, a frustração as minhas ambições e desejos, as minhas motivações, o meu censo de estética e critica e auto-critica, tudo aquilo que fundamenta o meu ser. Com estes dados definidos a mente cria estados de espíritos e uma gama grande de “pre-emoções” que moldaram o comportamento humano, em certo limite. Por isto é tão difícil mudar. O meu cérebro conhece as minhas dificuldades e medos, conhece o meu derrotismo e pessimismo... sabe que nunca tive sorte na vida e tem em evidencia toso os meus fracassos, sabe o quanto fui humilhado pela sociedade, negligenciado e como para me defender tive que criar um casulo e me isolar e me anular, anular os meus desejos e vontades, criando um mutismo característico. Antecipadamente, tudo isto o meu cérebro conhece, e a partir deste ponto de vista pessoal ele irá moldar o meu comportamento diante do mundo. E uma das manifestações deste pensamento ou aglomerado de significados e fazer com que eu desista de tudo e nem ao menos tente, porque mesmo antes de tentar, o meu cérebro, já definiu que eu vou fracassar. Uma coisa que precisa ficar clara e que este processo automático, esta síntese de significados e emoções, não é definido puramente por mim, sou um “sujeito” passivo. Não sou “eu” que comando todo este processo, e um mecanismo, talvez irracional ou inconsciente, a qual o cérebro ou a mente, antes de mim, origina todo este amontoado de significados. E gera uma enorme gama de emoções, sentimentos, sensações, efeitos psicossomáticos, pensamentos reincidentes (um filminho que passa pela cabeça), etc,etc... Mudando a perspectiva, a iniciativa, gerando comportamentos predefinidos e ações esperadas que são reincidentes. Todo o meu comportamento, a minha visão de mundo subjetiva é definida desta maneira. No entanto, isto não é uma sentença de morte. Mudar é extremamente difícil, e dependendo do que se quer mudar, fica mais difícil ainda. Mas a mudança ainda é possível. E necessário entrar em contato consigo mesmo, o mago do ser, e nunca força contraia, criando novos modelos, novas estruturas cerebrais e o comportamento, paulatinamente e lentamente, será alterado de forma definitiva e não provisória. Porque o “eu” pode deixar ser comandado pelos seus próprios “preconceitos” e predisposições, mas o “eu” também pode, analisando, procurando entender, entrando em contado com sues medos, modificar o seu comportamento. Mas o “eu” precisa ter uma força ativa, presente e persistente... No entanto, em relação a mim, e pela minha visão negativa, a qual não consigo sair, a mudança é altamente improvável. Talvez, com muito esforço e uma dedicação plena, que não sei onde encontrar, possa mudar uns 20% do meu comportamento no máximo.

3-2 Eu sou nada

sábado, janeiro 06, 2007

Eu estava tentando dormir, como não consegui e tinha umas idéias na cabeça, resolvi escrever. Estes pensamentos vieram a tona quando a Andresa disse que não se conformava por eu não fazer nada e não ter um trabalho. Na hora, como sempre, eu não falei nada porque eu sou assim... No entanto, o que ela me disse ficou na minha mente, martelando, o que não é nenhuma novidade.

Em minha opinião, não tenho nenhum valor e nenhuma aptidão, sou, como falam, um zero a esquerda ou um Zé Ruela. E não entendo como as pessoas conseguem ver algum talento em mim... Talvez eu sirva para burro de carga... A minha auto-estima é tão pequena que além dela não existir ela é negativa; um anti-eu, uma anti-consciência, uma anti-vontade, um anti-desejo, uma anti-iniciativa, uma anti-personalidade, etc. – sempre me colocando pra baixo, sempre me amedrontando, sempre inventado mil barreiras e empecilhos, etc... Para justifica a visão totalmente negativa que tenho de mim. Acho até mesmo que sou parente próximo dos seres inorgânicos – eles pelo menos existem, até mesmo a minha existência eu contesto, por isto estou num nível bem inferior.

Não se exatamente que tipo de trabalho a Andresa estava se referindo. E também não sei o tipo de atributos que ela via em mim. Um trabalho subalterno talvez eu consiga realizar. Só, que uma parte de mim, fragmentada, não toparia. Detesto me sentir preso e receber ordens, isto não é admitido para uma consciência tão aquariana como a minha. Se eu fosse trabalhar, se tivesse força de vontade, trabalharia só para mim e criaria um projeto, ou vários projetos; seria um super-empreendedor... Como me falta iniciativa, determinação e perseverança, crio um mundo imaginário, onde todos os meus projetos e ideais podem ser saciados e fico parcialmente satisfeito. Se fosse realizar tudo o que imagino, não conseguiria. É fácil imaginar e não requer nenhuma qualificação e nem nenhum esforço, mas tenta realizar o teu sonho e verá que é tão difícil e requer um empenho total, muitos desistem de inicio, outros, com uma idéia fixa, vão em frente sem observar os obstáculos. Se eu tivesse um sonho único poderia, do meu jeito, seguir em frente, só que todo dia surge um sonho novo e os velhos vão se diluindo na minha mente. Uso estes sonhos, ou ideais de grandeza, somente para satisfazer o meu ego megalomaníaco. “Vivo no mundo da lua” e isto me basta.

Além disto, sempre almejo a perfeição, e tudo que faço vejo defeitos e por não querer encarar estes defeitos prefiro desviar o foco e fugir das responsabilidades. São tantas coisas unidas, uma camada enorme de contingências, só fatores negativos presentes, poderia citar milhares: falta de auto-estima, insegurança, medos, duvidas, tristeza, crises existenciais, angustia, fragilidade emocional, falta de censo critico e estético, frustração, etc... Diante disto tudo não consigo enxergar nada de bom em mim, nenhuma qualidade, nenhuma habilidade, não vejo nada; somente os meus defeitos e crescem exponencialmente ao dia a uma taxa de 500 por cento.

O meu mais recente sonho, que surgiu a pouco tempo e que daqui a pouco esquecerei facilmente e entrará um novo sonho para ocupar o vácuo do que foi embora, é foto montagens e desenhos digitais utilizando programas como o Corel Draw e Photoshop. Já criei, na minha mente doentia ou imaginação utópica, vários desenhos e varias montagens, criei até mesmo o roteiro de como estes desenhos poderia ser feitos além do próprio desenho – porque a minha mente trabalha nos dois níveis. Só que morro de medo de realizar o desenho e não dar certo e não conseguirei suportar a frustração e entrarei automaticamente numa forte depressão, num abalo psicológico que irá destruir a minha auto-estima já combalida. Devido a isto prefiro não assumir esta empreitada e ficar brincando, sem nenhuma responsabilidade, com o Photoshop, até me cansar, ou a minha imaginação encontrar uma nova atração para ela se entreter. Este é um exemplo típico de como a minha mente funciona. Já tive que enfrentar este mesmo medo em diversas outras situações, como: poesia, escrever livros, artigos, teclado (musica), desenhos geométricos no Corel Draw, etc,etc... Sempre acabo desistindo ou interrompendo um trabalho pela metade, nunca consigo terminar e ir até o fim... As poesias de Mario de Sá-Carneiro resumem perfeitamente o que se passa em mim.

Poesia de Mário de Sá-Carneiro a qual me identifico
Quase
Dispersão
Ângulo
Distante Melodia
Vontade de Dormir





3-1 Visões subjetivas da viagem a São Paulo ou emoções despertadas

quarta-feira, janeiro 03, 2007

Eu estava totalmente em pânico, apesar de que ninguém percebeu. A minha mente estava perturbada por uma series de idéias descabidas que nunca se realizam. Estas idéias fixas em deixou num estado de alerta constante, não consegui relaxar e aproveitar a viagem. Estava também totalmente insatisfeito comigo... Ao mesmo tempo em que foi um horror foi também uma maravilha. Gostaria muito de voltar a São Paulo, nem que seja sozinho mesmo, agora que eu já sei como é. Mas, eu levaria um roteiro “pré-estabelecido” do que faria. Com mapas e outros acessórios... com os lugares que queria conhecer.

Eu tinha acordado às 05h30min AM, fiz tudo o que tinha que fazer o mais rápido possível. E depois fiquei esperando a Dra. Célia e a Andresa... Estava muito angustiado e preocupado com uma banalidade tão banal que só a minha mente poderia produzir. Tinha medo de ter algum desarranjo intestinal (às vezes o medo faz isto) ou de ter vontade de urinar, e como sou muito tímido, eu deveria utilizar uma estratégia que eu uso desde criança, durante todo o período escolar, segurar, segurar, segurar... até pode voltar pra casa; e isto, obviamente, traz conseqüências, até a morte. Mas nada disto aconteceu, consegui ir ao banheiro e tudo foi muito tranqüilo apesar do meu medo mórbido.

A Andresa estava dirigindo o carro. E ela queria, porque queria, que alguém falasse para ela ficar “desperta” ou coisa parecida. E ela estava exigindo que eu, a pessoa mais calado do universo inteiro, falasse... algo praticamente impossível, ate mesmo em condições normais... Mas como eu estava angustiado com os meus medos, feito um gatinho assustado, tremendo, não pude fazer nada a não ser me culpar, me condenar, me torturar por ser tão calado e por ter tão pouca iniciativa. Ai fiquei extremamente magoado e decepcionado comigo mesmo... Ela não poderia imaginar nada disto, de certa maneira, nem eu poderia imaginar o que ela estava passando... Com certeza, ela também estava encarando os seus medos, e eu, infelizmente, não pude fazer nada...

A viagem foi muito longa – não cronometrei, mas deve ter durado mais de três horas. A principio, fiquei fazendo uma coisa que mais gosto de fazer quando viajo, olhar a paisagem... Mas, depois de certo tempo fiquei entediado. Então, comecei a ler todas as placas que aparecia na estrada e as placas dos automóveis e caminhões também, prestando atenção na cidade de cada veiculo. Isto me distraiu um pouco...

São Paulo não é tão espantosamente difícil quanto imaginei e nem tão inacessível. São Paulo é igual a uma cidade qualquer só que muito maior... De certa maneira, perdi um pouco do medo que tinha dela e acho até mesmo que eu poderia visitá-la, tomando certos cuidados é claro, sem me perder...

Nos fomos almoçar na mãe da Dra. Célia. E eu, logicamente, fiquei envolvido novamente em meus medos e receios, não gosto de comer com as pessoas me “olhando”, sempre penso que estou fazendo algo errado e as pessoas estão me julgando... desde criança tenho este medo e ele já foi muito maior. Crio mil incidentes que podem ocorrer... e nada de terrível aconteceu, novamente, a realidade se mostrou mais “simpática” do que imaginei.

Também foi extremante fácil e tranqüilo pegar o premio Arthur Bispo do Rosário, na categoria poesia, a qual havia ganhado, com a minha poesia “Eu...”. Depois pegamos o metro para ir a estação Republica para ver a poesia exposta. Achei muito interessante a exposição... gostei muito de uma fotografia colorida, gostei porque penso em fazer algo parecido (se tiver este talento). Tinha uma seria de obras bonitas e me identifiquei muito, isto, sempre me desperta, desperta o meu lado criador esquecido... Não falei nada do metro. Estava morrendo de medo de me perder ou de pensamentos mais horrendos que me vinha na cabeça. A Dr. Célia cuidou de mim e da Andresa. A Andresa estava com muito medo do metro por causa da sua velocidade, de certa maneira, eu me adaptei rápido e até gostei da viagem.

Não anotei nada da viagem a São Paulo e como sou esquecido já não me lembro de muita coisa. Passamos na frente de um cemitério, bem que eu gostaria de ir lá, para ver os mortos, as esculturas, as fotografias e tudo mais... o universo dos mortos me fascina muito, vai ver porque sou mais morto do que vivo e me identifico mais com os mortos do que com os vivos.

Na volta a Andresa teve uma crise. Estava chovendo um pouco e a Andresa morre de medo de chuva. Então a Dra. Célia parou o carro para acalmá-la. A Andresa reclamou de seus medos, a qual ela exteriorizava com muita freqüência. A grande diferença entre os medos da Andresa e os meus e exatamente este, ela exterioriza e eu interiorizo... Fiquei em pânico, de diversas formas e com medos diferentes, durante toda a viagem só que não informei isto pra ninguém. Precisa resistir e suportar sozinho, devido à timidez... Num certo sentido a Andresa tem sorte de poder exteriorizar os seus medos porque ela ganha apoio... e comigo ocorre o contrario, apesar, das pessoas notarem que estou com medo de alguma coisa só que elas não sabem do que...

Na volta para Ribeirão Preto, devido à viagem e o movimento do carro e a monotonia da paisagem ou do cansaço propriamente dito, estava num estado de transe quase dormindo... desta vez eu estava no banco de trás e a Andresa no banco da frente. Então eu não fui “convidado” a falar com ninguém, por isto, me isolei no meu universo particular. Enquanto, de vez em quando a Andresa e a Dra. Célia Falavam alguma coisa... Reparei na quantidade enorme de pessoas que vendiam uva na beira da estrada, devia ter passado, mais de trinta. Engraçado que a Dra. Célia confundiu estes vendedores, uma vez, com um radar, e todo mundo riu... No final da viagem contei quantos quilômetros faltavam para chegar a Ribeirão Preto, um a placa informava a quilometragem da estrada, quilômetro 40, 39,38 assim por diante... E novamente, estava envolto em outros medos, a qual guardava pra mim e sofria sozinho.

Quis tratar, neste relato, mais particularmente o meu estado emocional... já que neste blog priorizo este aspecto no que concerne ao meu diário propriamente dito.